Precisamos da liderança?

Muito se tem falado sobre o novo perfil da chefia e, em alguns casos, chega-se até a contestar a própria necessidade da sua existência. Isto em nome da maior autonomia das equipes, por exemplo.
Reconheço a importância da discussão sobre as características desse novo perfil. Mas, não posso concordar com a possibilidade da inexistência de liderança. No meu entendimento, questionar a necessidade da existência de chefias na estrutura das organizações, mesmo nas estruturas mais flexíveis, é no mínimo, desviar o foco do problema central.
Toda empresa bem sucedida é uma empresa com liderança orientada. Não há sucesso que prescinda de foco, orientação, acompanhamento, entusiasmo e, controle.
Mais ainda, diria que nunca a liderança foi tão necessária quanto hoje!
Fica claro que podemos fazer diferenciações entre o conceito de chefia e de liderança. Do ponto de vista conceitual a chefia é entendida como um posto de trabalho dentro da visão hierárquica das estruturas enquanto a liderança é percebida como uma característica pessoal que diferencia o profissional, seja qual for seu nível hierárquico. Mas não podemos deixar de constatar que na função das chefias deverá lhe estar implícita a atuação de liderança.
Não significa exigir que nossos funcionários em nível de chefias sejam super-homens. Talvez aqui esteja o cerne do problema, e da solução. Na realidade as nossas chefias não precisam ter características especiais. Terão sim, que ser responsáveis e conscientes de que não serão capazes de resolver tudo sozinhos. Isto seria um enorme passo.
Outro aspecto interessante se refere à necessidade de que transitem, com naturalidade, em estruturas complexas e de hierarquias de autoridade ambíguas. Em alguns momentos precisarão assumir decisões e, em outras, precisarão ser membros da equipe e acatar necessidades coletivas. Sem dúvida um desafio interessante para qualquer ser humano.
Mas, o que a nova chefia precisa conscientizar-se é de que sua função não é mais, apenas, fazer a hierarquia funcionar. Podemos manter o negócio funcionando e, ainda assim, precisamos contestar o óbvio, incentivar a criação e possibilitar a inovação.
No vídeo de treinamento, Liderança, A Arte das Possibilidades, da Siamar, o protagonista principal, um maestro, conta que, apenas aos 45 anos constatou uma realidade surpreendente: o maestro é o único músico que não emite qualquer som! Portanto a única possibilidade de ser um sucesso é fazendo com que seus músicos sejam poderosos.
Assim deverão ser os chefes, em qualquer nível.
Mas isso não pode ocorrer por iniciativas individuais, precisamos ter políticas que encorajam o pensamento inovador e modifiquem a tendência de continuar gerando organizações menos sensíveis a mudanças.
Muitas vezes as empresas queixam-se de seus níveis de chefias, mas elas são frutos da gestão. É inevitável uma revisão das características de gestão para gerar mudanças e desenvolvimento dos níveis de chefias. E, por favor, não imaginem a possibilidade de usar o raciocínio: “façam o que eu digo e não o que eu faço”. Exemplo é fundamental! Portanto se não quisermos enfrentar o desafio de mudarmos a nós mesmos, antes, não espere conseguir fazer isso com os outros.
Essa premissa nos permite considerar uma outra característica importantíssima no novo perfil da chefia: a ética. Acreditem, estamos em revolução pelo resgate da ética e da integridade. As empresas procuram profissionais com essa característica. Mas como atraí-los se as próprias empresas não evidenciarem essa característica.
E, conjuntamente com a ética o novo perfil exige uma postura a questionar o “status quo” que sempre conduz à acomodação da estrutura.
Portanto, seu grande desafio está em:
– Ser firme para não fugir à necessidade da decisão que transfere segurança para a equipe e, logo em seguida, ceder às posições da equipe e segui-la fielmente.
– Ser a bússola estratégica da equipe e, ao mesmo tempo, ter plena consciência de que somente fazendo-os serem poderosos é que alcançará sucesso.
– Ser questionador e, acima de tudo, manter a ética e a integridade.
– Ser Rei e plebeu, comandante e soldado, professor e aluno, enfim, enorme desafio, que não exige estudo, inteligência superior ou qualquer outra vantagem diferencial.
Em contrapartida exige:
1- flexibilidade típica daqueles que sabem que precisam e querem aprender, nas mudanças e com as mudanças;
2- humildade característica das pessoas que reconhecem a necessidade da integração, da soma de esforços e dos conhecimentos descentralizados nas pessoas;
3- coragem daqueles que, por não terem tudo, terão que lutar, combater as adversidades e, se exporem e, precisamente por isso, agradecer às adversidades por aparecerem e permitir que possam fortalecer-se e continuar sua luta, sempre. E, acima disso, o interesse pelas pessoas.
Não se iludam, a Gestão de Pessoas será o diferencial deste nosso novo século. Quem sabe deste nosso novo milênio!
Mas, profissionais assim não aparecerão se não lhes for provido um ambiente que incentive essas características. Poderia dizer que muitas pessoas as possuem, mas não se sentem à vontade para experimenta-las dentro da empresa. Lembrem-se do que dissemos acima. Como a empresa poderá atrair profissionais íntegros e éticos se a empresa não transferir essa imagem para o mercado? Apenas as melhores empresas conseguirão atrair os melhores profissionais. Ou formar e desenvolver, internamente, seus melhores profissionais.

Bernardo Leite Moreira

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